Por Humberto Façanha*
Atualmente, a velocidade de produção e disseminação das informações é prodigiosa. Estamos conectados em múltiplos canais, sejam eles de voz, texto e imagem, dos mais diversos meios de transmissão, telefone, rádio, televisão, internet, em inúmeros aplicativos, redes sociais, profissionais, etc. Enfim, tudo se propaga, seja de bom ou ruim! Uma coisa ninguém pode reclamar: falta de oportunidade para a conscientização do que ocorre localmente ou no mundo, em qualquer área do saber humano.
Em decorrência disto, pessoalmente, tomo conhecimento diário do pensamento e posicionamento, de uma forma geral, dos gestores laboratoriais, principalmente daqueles que operam os pequenos e médios laboratórios clínicos no Brasil. As manifestações normalmente convergem e, sobretudo, SE REPETEM, exaustivamente para os seguintes tópicos:
1.- Situação econômica e financeira ruim, fato que aumenta o risco de insolvência destas organizações. Isto atualmente delimita o problema comum dos gestores laboratoriais.
2.- Culpados que invariavelmente são citados como responsáveis:
2.1- Compradores dos produtos (Convênios, etc.).
2.2- Médicos assistentes que demandam os produtos (Serviços e exames laboratoriais).
2.3- Laboratórios de apoio.
2.4- Governos (Federal, estadual e municipal).
2.5- Fornecedores de insumos.
2.6- Colegas de profissão (Empresários na área das análises clínicas).
2.7- Capital externo (Investidores estrangeiros).
O que posso dizer sobre estes tópicos? Quanto ao número 1, temos uma constatação real, tangível e inquestionável, com raras exceções, seria negar uma evidência. Este tópico DEFINE O PROBLEMA. Entretanto, com relação aos demais tópicos, se me permitem, vou externar minha opinião pessoal, por decorrência, sujeita às falhas inerentes ao ser humano e a minha própria ignorância, mas é o que penso.
Todavia, com muita vontade de mudar perante a novas argumentações. Sabemos que a verdade pertence ao saber coletivo e muda de forma permanente com a realidade objetiva dos fatos e o saber da ciência. Dito isto, passo a comentar os tópicos citados.
2.1- Culpar os CLIENTES (Convênios), ainda que atores intermediários com o usuário final, é culpar a “RAZÃO DE EXISTIR” das organizações humanas e, dentre estas, os laboratórios clínicos, cuja missão é fornecer serviços e produzir informações (Laudos/exames) para os CLIENTES! Cliente, em qualquer negócio, é SOLUÇÃO, não problema. Enquanto houverem clientes, haverá esperança. Sem eles, não existirá o negócio.
2.2- Os médicos que solicitam os exames estão praticamente no mesmo nível de importância dos pacientes. Pois, é através do médico que, tendo como uma das fontes de informação os exames, poderá elaborar o diagnóstico para a solução do problema do cliente. Sem o médico assistente, praticamente, não existiria o laboratório, portanto, este será parte importante da SOLUÇÃO, não a causa de problemas! Se ocorrem direcionamentos ou falta disto, preferências e exigências feitas pelos médicos, estas serão oportunidades de melhorias para os competentes. Ou será que os médicos colocam condicionantes ilegais, antiéticas, desonestas ou desleais? E, somente para você?
2.3- Atualmente, face a logística e principalmente a multiplicidade e complexidade da tecnologia que avança a taxas crescentes, não mais é possível existir um laboratório que não seja apoiado por outros, em qualquer parte do planeta. Então, torna-se inútil “declarar guerra” aos laboratórios de apoio, pois eles são uma exigência para o sistema global funcionar. O “cluster” das análises clínicas não pode operar com eficiência sem o conceito do “apoio”. São como os “impostos”, não há o que discutir sobre se devem ou não existir, contudo, pode e se deve debater suas formas de atuação. Finalmente, hoje vejo eles mais como SOLUÇÃO do que como problema. Provavelmente, sem eles, a grande maioria dos pequenos e médios laboratórios já poderiam ter se encaminhado para a insolvência, ou pelo menos, buscado uma solução radical (?) para resolver como produzir os exames complexos exigidos pelo mercado cada vez mais tecnológico, e sem dispor de recursos financeiros para tal desafio.
2.4- O Governo é o maior comprador de exames, portanto, seguramente um dos maiores CLIENTES, e como já vimos, cliente é SOLUÇÃO, não problema. Ainda, o Governo detém o poder de regular legalmente o funcionamento de todo o sistema. Finalmente, estipula os impostos. Com um “stakeholder” desta magnitude, em alguns pontos devemos acatar (onde houver poder de polícia), em outros se unir (greves localizadas em comunidades com poucos prestadores, por exemplo), em outros influenciar via Sociedades Científicas (regulação técnica), bem como em outros SERMOS MAIS COMPETITIVOS, fazendo mais com menos, mantendo a qualidade exigida legalmente. Finalmente, quando isto não for possível, DEIXAR DE ATENDER! Ninguém, nenhum laboratório que se preza, pode se submeter a viver de um só cliente!
2.5- Os fornecedores de insumos fazem parte do mesmo mercado competitivo que os laboratórios estão inseridos, portanto, faça com que eles sejam parte da SOLUÇÃO e não do PROBLEMA. Tenha competência gerencial, a GESTÃO TEM QUE SER PROFISSIONAL, não existe mais espaço para o amadorismo no universo das análises clínicas!
2.6- Os colegas de profissão e empreendedores nada mais são do que um elemento indispensável no mercado, sem eles, não existiria o próprio mercado, lugar onde TODOS nós atuamos! Seria a utopia de ter um único fornecedor ou um grupo com dois tipos de fornecedores: os que reclamam dos colegas e os que são os “espertos”, egoístas, antiéticos e desleais, que aviltam os preços, complicam licitações, enfim, semeiam a discórdia e fomentam a desunião da classe, e por aí vai. Pois bem, se isto fosse verdade, porque não se unem, pelo menos, os do grupo que quer a união, que são éticos? Ou será que em todas as cidades só tem um destes, divididos de tal forma que não existe a possibilidade geográfica da união? Ou será que existe a predominância inexorável dos “maus colegas”, por decorrência, marcando inevitavelmente a classe dos proprietários de laboratórios clínicos, como aética, com indivíduos carentes de uma boa moral?
2.7- O capital externo veio para ficar. O mundo globalizado é caracterizado exatamente por isto: intercâmbio de riquezas de toda a espécie (commodities, investimentos financeiros, conhecimento, seres humanos, cultura…). Ele traz consigo a concorrência internacional à nossa porta, acompanhada de ameaças, mas também de oportunidades. Sejamos GESTORES PROFISSIONAIS, competentes, para aproveitá-las! A concorrência é competitiva, aguerrida e disputa com ferocidade toda e qualquer fatia do mercado. Não há espaço para “choro”, lamentação ou reclamação, só existe um objetivo: sobreviver e lucrar! Não adianta argumentar que isto não é justo, aliás, não existe para quem reclamar.
Portanto, concluo e conclamo os colegas gestores de laboratórios clínicos: vamos mudar a percepção das causas do problema (que, sem dúvidas, existe) e das soluções! Basta de reclamações. Ao invés de buscar as causas somente no ambiente externo, colocar a culpa do problema nos outros, bem como esperar que terceiros apresentem soluções, vamos voltar nossa atenção para dentro dos nossos laboratórios, para as nossas atitudes gerenciais, o que de fato estamos fazendo além de protestar? Que ações gerenciais estamos adotando para aumentar a produtividade, reduzir riscos, incrementar competitividade e lucros? Você está avaliando a competitividade do seu laboratório? Quantificando os custos de produção? Metrificando a rentabilidade de exames, clientes, equipamentos e setores da produção?
Calculando o momento certo para a terceirização mais rentável? Você está se comparando (processo de benchmarking) com os seus concorrentes para saber onde está pior e deve melhorar? E como melhorar? E quanto esperar de retorno? E ainda, o laboratório é um negócio viável considerando as características da região onde opera? Caso tenha uma única resposta negativa, poderá não estar controlando adequadamente os processos da sua organização, ainda que hoje esteja lucrando bem! A SOLUÇÃO para todas estas questões, virá somente com GESTÃO PROFISSIONAL. Não existe alternativa honesta possível! Seja proativo. Faça acontecer!
Boa sorte e sucesso!
*Humberto Façanha da Costa Filho – professor e engenheiro, atualmente é diretor da Unidos Consultoria e Treinamento e do Laboratório Unidos de Passo Fundo/RS, professor do Centro de Ensino e Pesquisa em Análises Clínicas (CEPAC) da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC) e professor do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo (IESA), curso de Pós-Graduação em Análises Clínicas.
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